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Eduardo Tristão Girão é jornalista e especializado em queijos artesanais mineiros - Foto: Divulgação/Mercado Cervejeiro
5 Perguntas

5 perguntas para Eduardo Tristão Girão

Eduardo Tristão Girão é jornalista e, como todo colega de profissão, vai fundo quando o assunto desperta alguma curiosidade. Foi assim com os queijos artesanais mineiros. Visitando fazendas, conversando com produtores, vivenciando as etapas da produção dos diferentes queijos feitos em Minas Gerais, ele foi, aos poucos, descobrindo uma nova profissão. Hoje Eduardo promove degustações de queijos com os mais variados tipos de produtos como acompanhamento: cervejas, drinks, cachaças, cafés, azeites e até chocolates! E viaja o país levando conhecimento e cultura, traduzindo para o público a importância de valorizar o produto local e artesanal, sem modismos.

A última degustação promovida por ele neste ano vai ser realizada no Mercado Cervejeiro, em Nova Lima, nesta quinta-feira, dia 20 de dezembro, e certamente será uma noite muito especial (veja mais detalhes sobre este evento depois das entrevista).

Eu conheci o Eduardo em um destes eventos, um pouco antes do lançamento do site. Foi em um convite da querida Angélica Appelt, para uma noite de degustação de queijos e vinhos, oferecida pela Casa Flora Importadora, que eu pude ver o tanto que ele conhecia sobre os processos e a produção dos queijos mineiros. Tudo muito bem explicado, numa noite muito agradável, que me rendeu novos colegas com quem convivo até hoje, como a querida Léa, do @degustatividade, a Isabela, do @coisasdemineiro e a Amanda, do @proximaparadatrip.

Ter mais informações sobre os queijos foi muito enriquecedor para mim. Ajudou a valorizar ainda mais a produção do estado, a compreender melhor todo o processo e até melhorou minhas harmonizações de cerveja com queijos.  E por este motivo, Eduardo foi convidado para participar da nossa coluna –  5 perguntas!

O jornalista gastronômico Eduardo Tristão Girão faz harmonizações com queijos mineiros artesanais – Foto: Divulgação/Mercado Cervejeiro
O jornalista gastronômico Eduardo Tristão Girão faz harmonizações com queijos mineiros artesanais – Foto: Divulgação/Mercado Cervejeiro

1. Assim como acontece com as cervejas, o mundo dos queijos permite ao consumidor ter acesso a uma infinidade de combinações, sabores e experiências. Você já estuda e acompanha a produção dos queijos há anos. O que o atraiu para este tipo de estudo?

Foi um processo meio natural. Sou jornalista de gastronomia há 14 anos e o queijo sempre esteve na minha pauta. Entre os vários assuntos, restaurantes novos, eventos, chefs, tendências, o queijo sempre esteve presente. Algumas vezes por ano eu estava escrevendo sobre queijo. E nos últimos anos eu vinha escrevendo bastante sobre queijo no meu Instagram. Eu me tornei um consumidor muito frequente de queijo, comecei a comparar os queijos diferentes, queria saber de onde vinha, quem fazia, por que tinha aquele gosto, observar as interações com bebidas, com outros alimentos, aí fui começando a ficar muito curioso por isso e começando a prestar bastante atenção. Então sempre que a gente dedica um olhar mais atento àquilo que a gente está comendo, a gente naturalmente começa a produzir algum tipo de reflexão. Num dado momento eu já tinha algum conhecimento acumulado sobre queijo e surgiu a oportunidade de montar uma degustação de queijos e cervejas, dois produtos de Minas, atualmente, Minas tem uma produção expressiva de cerveja. E hoje eu tenho pouco mais de 2 anos que eu tenho feito, já fiz fora de Minas também, estou num ritmo bem intenso de degustações, fiz muitas neste ano e a última vai ser nesta quinta-feira, no Mercado Cervejeiro.

2. Nos últimos anos os queijos mineiros venceram prêmios importantes mundo afora. Quais as características dos queijos produzidos aqui no estado que você considera um diferencial da produção mineira?

Minas tem uma tradição muito grande com isso. A gente tem um lastro de produção ao longo da história, tem muita tradição, tem muita qualidade e tem muita diversidade também. Quando a gente fala dos queijos mineiros a gente lembra muito dos queijos Canastra, do Serro, Araxá, que são queijos de uma mesma receita, que é a receita do Queijo Minas Artesanal, um tipo de queijo. Mas existem muitos outros tipos, existe o queijo de Alagoa, no Sul de Minas, o queijo da Mantiqueira, ambos parecem o parmesão, lembram o parmesão, tem o Cabacinha, no Vale do Jequitinhonha, o Requeijão Moreno, que tecnicamente não é queijo, mas é um produto lácteo, e tem agora essa tendência dos queijos mofados. Então Minas, como diferencial, tem história e tem diversidade.

3. Em termos de mercado, como é a sua percepção sobre a venda de produtos especiais, considerados “premium” como cervejas, queijos, geleias, etc. É uma busca do consumidor por um produto mais artesanal ou é a “gourmetização” do mercado, numa possibilidade de cobrar mais caro por um produto?

Eu não acho que é gourmetização não. Eu acho que o consumo deste tipo de queijo, do queijo artesanal mineiro, ele passa por outros caminhos, então não é só consumir um produto mais caro. A gente consome um produto que tem uma série de etiquetas, de marcadores, vamos dizer assim. São produtos artesanais, são produtos que têm ligação com nosso passado, com a nossa história, por conseguinte, têm a ver com cultura, ao modo de fazer uma coisa, um hábito alimentar. A gente consome um produto artesanal que expressa a nossa identidade, história, cultura, é um produto que é natural, não tem aditivo nenhum, e a gente está consumindo o que é local, que é feito no nosso estado, então tem uma série de marcadores que estão juntos neste produto que tornam o ato de consumir o queijo muito mais do que consumir um produto que é gourmet, ainda que ele seja enxergado como um produto gourmet. Ele pode ser enxergado como um produto gourmet também, mas não é justo com esse produto associá-lo com a gourmetização, acho que tem raízes muito mais profundas e significativas.

Destaque da entrevista - Foto: Divulgação/Mercado Cervejeiro
Destaque da entrevista – Foto: Divulgação/Mercado Cervejeiro

4. Queijos harmonizam tanto com vinhos, quanto com cervejas. Entre os tipos de queijo que você usa, qual tipo de harmonização é mais fácil de ser feita: com queijos ou vinhos? E você tem alguma preferência?

Pessoalmente eu acho mais fácil harmonizar queijo com cerveja do que com vinho, o que não quer dizer que um é mais prazeroso do que o outro. Tem alguns motivos para isso. Um deles, no caso da cerveja, é a carbonatação. O gás ajuda a limpar o paladar, então a gente tem o paladar mais renovado. A cerveja também tem uma série de estilos, uma diversidade muito grande, é muito prazeroso ficar caçando um estilo de cerveja para casar com um queijo, isso é muito bom!

No caso do vinho, a gente tem alguns probleminhas. Um deles é o tanino, aquela sensação de secura na boca, presente no vinho tinto, que dificulta um pouco a harmonização, sobretudo com queijos que são mofados. Esses queijos, quando são casados com vinhos com muito tanino, costumam dar um gosto químico, meio de remédio, na boca, o que não é muito agradável. Nada é tão definitivo, depende muito do gosto pessoal de cada um, mas em geral essa combinação costuma dar errado. Alguns queijos, como os mineiros, têm acidez, que é uma característica muito agradável, esperada e normal. Mas para certos tipos de vinho é um pouco complicado esse nível de acidez no queijo. A gente tem vinhos para isso, um espumante ou um branco também vai muito bem com um queijo mais ácido, mas é um pouco mais restritivo.

No caso da cerveja também tem algumas restrições também, por exemplo, uma cerveja que tenha muito lúpulo, que seja muito amarga, eu particularmente gosto bastante e com muitos alimentos vai bem, mas com o queijo, algumas vezes, o lúpulo, em uma dose maior, vai gerar uma persistência muito grande do amargor na boca e pode comprometer a apreciação de alguns tipos de queijo. Existem cervejas muito lupuladas e muito amargas que vão bem com alguns tipos de queijo, mas não são todas.

De uma maneira geral, eu acho mais fácil combinar com cerveja, mas tenho a mesma alegria de casar queijo com vinho. Já fiz harmonizações com café, que modificam inclusive a percepção da bebida, já harmonizei com cachaça, com drinks, em combinações muito interessantes.

5. Para terminar, conte a história de uma harmonização com cerveja que você tenha experimentado e que tenha marcado a sua vida – de forma boa ou ruim!

Tem um caso que eu gosto muito de contar de harmonização com queijo e cerveja que foi durante um trabalho de degustação harmonizada que eu estava fazendo com a Fabiana Arreguy, jornalista também como eu, e especialistas em cervejas. Nós somos amigos, jornalistas e já fizemos algumas degustações desse tipo juntos. É sempre muito bom trabalhar com ela, é muito competente.

A gente fez uma vez uma harmonização de um queijo de casca mofada da microrregião do Serro, com interior mais cremoso, um queijo mais potente, que a Fabiana comparou com um queijo Brie, um queijo francês. A gente tava fazendo os testes, discutindo o que a gente ia harmonizar e aí ela teve uma sacada que eu achei genial. Ela se lembrou de que, geralmente, as pessoas gostam de harmonizar o queijo brie com frutas secas, com geleias, e o damasco é uma fruta que está sempre presente. É uma imagem muito recorrente. A gente até brincou que é uma coisa que a gente vê muito em encarte de supermercado ou em livros de gastronomia, sempre tem um queijo com cacho de uva, queijo com damasco. Ela teve esse clique e fez essa associação de um queijo que parecia Brie e uma cerveja que tinha notas de frutas secas, de damasco, que é uma cerveja do estilo Tripel.

A harmonização foi por complementação, com características de um alimento e do outro, por uma associação cultural que a gente faz do Brie com damasco. Ficou muito boa! Quando eu vou fazer alguns eventos e eu tenho algum queijo mofado, mais cremoso, eu sempre recorro a essa saída que ela arranjou e sempre faço justiça a ela e falo que quem teve a sacada genial foi a Fabiana Arreguy, conto toda a história e aproveito para lançar mão da ideia ótima que ela teve.


Degustação no Mercado Cervejeiro

Para quem mora em Belo Horizonte e região, a dica é boa. Nesta quinta-feira, dia 20, às 19h30, o jornalista gastronômico Eduardo Girão vai promover uma noite especial no Mercado Cervejeiro. Serão 7 queijos e 1 sobremesa de queijo, harmonizados com 8 cervejas – 1 de cada cervejaria presente no Mercado. Olha a lista:

  • Queijo Cabacinha – Joaíma com a Tangerine da Küd
  • Requeijão moreno – Pioneiro com a Red Ale, da Prússia
  • Queijo Canastra – Capela Velha com a Dry Stout, da Albanos
  • Queijo Pirâmide azul de cabra – D’Chèvre com a 45 RPM, da Vinil
  • Queijo do Triângulo – Luana com a Melon Collie Ipa, da Capa Preta
  • Queijo do Serro – Ouro Fino Maturação especial com a Inocência, da Krug
  • Queijo de Alagoa – Fazenda Bela Vista com a Monasterium, da Falke
  • Cheesecake de Frutas Vermelhas – Blu Bakehouse com a Pantera Negra, da Trinca

O valor da harmonização é de R$120,00 por pessoa, no 1º lote. Quem se inscrever com acompanhante ganha um desconto de R$10,00 nas duas inscrições. O 2º lote custa R$130,00 e também tem desconto de R$10,00 para as inscrições duplas. Os ingressos são vendidos pela internet. Outras informações pelo Whatsapp 31-98567-3191. O Mercado Cervejeiro fica na Avenida Montreal, 232, bairro Jardim Canadá, em Nova Lima.


“5 perguntas” é o espaço no blog para entrevistas com personalidades do mundo cervejeiro. Além de trazer informações atualizadas de mercado, haverá sempre uma sugestão de harmonização sugerida pelo entrevistado. Veja aqui todas as entrevistas da seção “5 perguntas”.

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