***Reportagem atualizada em 23/04/2020
Nesta semana a Lei da Pureza da Cerveja completou 504 anos. No dia 23 de abril de 1516 o duque Guilherme IV, da Baviera (ou Bavária, no sudoeste da Alemanha) promulgou a lei que mudaria para sempre a história da cerveja. Mas o que significa exatamente essa lei?
A Lei da Pureza obriga o uso de ingredientes específicos para a fabricação da cerveja na região da Baviera: água, malte de cevada e lúpulo. Na época, a levedura ainda não era conhecida (ainda vamos conta essa história aqui no blog!) e só foi adicionada depois. Só no início do século XX é que a lei passou a valer em toda a Alemanha e ganhou o título que leva até hoje: Reinheitsgebot, que significa ordem ou exigência de pureza. É uma das leis mais antigas em relação aos alimentos.
Apesar de continuar valendo até hoje na Alemanha, a lei perdeu força com o surgimento da União Europeia, já que o país foi obrigado a aceitar a importação de cervejas produzidas na região de livre comércio. Hoje em dia, os cervejeiros até podem fazer cervejas “fora da lei”, bastando pedir uma autorização ao governo. Cervejas destinadas à exportação também não precisam seguir as regras.
Além de acrescentar a levedura, outras mudanças incluem até a adição de açúcar (seja ele de cana de açúcar ou beterraba, por exemplo) durante as etapas de produção. O termo malte de cevada foi substituído por malte em 1806, liberando o uso de outros cereais na cerveja. A lei mais recente que trata do assunto é de 1993 e faz parte do código tributário da Alemanha.
História
São duas histórias que explicam o surgimento da Reinheitsgebot. Uma das versões diz que essa lei foi criada para resolver um problema de saúde pública e um problema de falta de alimentos. Na época, a fabricação de pães, feitos com trigo, disputava ingredientes com a fabricação de cervejas Weiss, também feitas com trigo e muito populares nessa região da Alemanha.
Outro problema envolvia os cervejeiros, que usavam alternativas ao lúpulo para trazer amargor à cerveja. O problema é que os ingredientes usados para isso estavam cada vez mais estranhos: bagas de zimbro, gengibre, sementes, cinzas, cal, folhas – o que o cervejeiro achasse era colocado ali. Essa mistura era conhecida como gruit. O problema aqui é que nem sempre dava para saber como seria o resultado depois da fermentação, o que podia trazer problemas no aparelho digestivo (vômitos, irritações e o famoso “piriri gangorra”). Aliás, conta a história que esse “efeito colateral” teria sido a gota d’água para que o duque promulgasse a lei… vai saber né?
Ainda há uma versão mais política e econômica dessa história. É que o monopólio da cevada na época pertencia ao duque. Ao proibir o uso de trigo, ele estaria, na verdade, eliminando a concorrência e conquistando todo o mercado cervejeiro. Além disso, a lei também controla o preço das cervejas, dificultando a importação de outros condados.
Texto da lei original, traduzido:
“Proclamamos com este decreto, por Autoridade de nossa Província, que no Ducado da Baviera, bem como no país, nas cidades e nos mercados, as seguintes regras se aplicam à venda da cerveja:
Do dia de São Miguel (29 de Setembro) ao dia de São Jorge (23 de abril), o preço para um Litro ou um Copo, não pode exceder o valor de Munique do pfennig. Do dia de São Jorge (23 de Abril) ao dia de São Miguel (29 de setembro), o litro não será vendido por mais de dois pfennig do mesmo valor, e o copo não mais de três Heller.
Se isto não for cumprido, a punição indicada abaixo será administrada.
Se todo cervejeiro tiver outra cerveja, que não a cerveja do verão, não deve vendê-la por mais de um pfennig por Litro.
Além disso, nós desejamos enfatizar que no futuro em todas as cidades, nos mercados e no país, os únicos ingredientes usados para fabricação da cerveja devem ser lúpulo, malte e água.
Qualquer um que negligenciar, desrespeitar ou transgredir estas determinações, será punido pelas autoridades da corte que confiscarão tais barris de cerveja, sem falha.
Se, entretanto, um comerciante no país, na cidade ou nos mercados comprar dois ou três barris da cerveja (que contém 60 litros) para revendê-los ao vendedor comum, apenas para este será permitido acrescentar mais um Heller por copo, do que o mencionado acima. Além disso, deverá acrescentar um imposto e aumentos subsequentes ao preço da cevada (considerando também que os tempos da colheita diferem, devido à localização das plantações).
Nós, o Ducado da Baviera, teremos o direito de fazer apreensões para o bem de todos os interessados.”
Guilherme IV Duque da Baviera
Curiosidade: Veja como se pronuncia a Reinheitsgebot em alemão. Clique no player abaixo.
